POR: Lucas Costa
A Copa América de 2019 chegou ao fim. Depois de 30 anos, o Brasil voltou a sediar o maior torneio de seleções do continente. E, como nas vezes anteriores em que foi o palco principal da competição, sagrou-se campeão. E não contou com Neymar, a principal estrela do escrete canarinho. Chegou ao 9º título da Copa, atrás de Argentina e Uruguai. A edição deste ano contou, além das 10 seleções da América do Sul, com 2 convidados. O Japão, que já havia jogado a Copa América em 1999, e o Catar, país sede da próxima Copa do Mundo, em 2022. Para a seleção canarinho, o jejum já durava 12 anos. A última conquista havia sido em 2007, contra uma poderosa seleção da Argentina cheia de craques como Riquelme, Verón, Crespo, Ayala, Tévez e Messi. Há 12 anos, Daniel Alves estava lá. Fechando o caixão albiceleste com o gol do título. Ontem, no Maracanã, levantou o seu quarto troféu com a amarelinha.
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Depois de 12 anos, Brasil volta a conquistar a Copa América |
VAR, POLÊMICAS E CRÍTICAS
A Copa América começou no dia 14 de junho, com o jogo entre Brasil e Bolívia, no Morumbi, e com a seleção jogando de branco. Em 1919, na primeira vez em que sediou o torneio, o Brasil foi campeão jogando de branco. A camisa, por sua vez, foi usada até 1950, quando foi "amaldiçoada" pelo Maracanazo, na derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo daquele ano. Foi aposentada em 1954, quando deu lugar à tradicional camisa amarela. A última vez que isso tinha acontecido foi em 2004, no amistoso comemorativo dos 100 anos da Fifa, entre Brasil e França, que terminou em 0 a 0.
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Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká...Brasil jogou de branco pela última vez em 2004 |
Na estreia do torneio, o Brasil fez 3 a 0 na pior seleção do continente. Destaque para o golaço de Everton, jogador do Grêmio. O "Cebolinha" foi brilhante na competição, sendo ovacionado pela torcida brasileira. Marcou em três partidas. Teve pênalti marcado pelo VAR, teve gol de Philippe Coutinho. Sem Neymar, cortado por lesão, o Brasil mostrava que podia se virar sem seu principal astro.
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15 anos depois, Brasil volta a vestir uniforme branco |
O segundo desafio seria contra a Venezuela, em Salvador. O jogo foi o mais pegado na fase de grupos. Um 0 a 0, com vaias da torcida na Fonte Nova e dois gols anulados pelo VAR. Teve também a reação épica de Galvão Bueno, quando o repórter Tino Marcos informou que o volante Fernandinho entraria em campo. Fernandinho, logo ele. Marcado por erros nas últimas duas Copas do Mundo, ele começou a Copa América como titular. E no jogo contra a Venezuela, quase marcou um gol de cabeça já no fim da partida.
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Roberto Firmino disputa bola no alto: ele teve gol anulado pelo VAR |
E pra fechar a fase de grupos, mais um jogo em São Paulo. Dessa vez, contra o Peru, e não no Morumbi, mas sim na Arena Corinthians, que havia sido palco de abertura da Copa do Mundo de 2014. E aí, a seleção deslanchou. 5 a 0 sem dó e nem piedade. No fim do jogo, Gabriel Jesus ainda perderia um pênalti. Mas não fez falta. A classificação para as quartas de final havia sido consolidada. Aí, viria o desafio mais complicado. O Paraguai, responsável pela eliminação do Brasil em 2 das últimas 3 edições da Copa América. E as duas nos pênaltis.
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Alisson foi decisivo contra o Paraguai, defendendo um dos pênaltis |
Em 2011, na Argentina, o Brasil foi eliminado nas quartas de final pelo Paraguai. Nos pênaltis, e sem acertar nenhuma cobrança. Na ocasião, as críticas foram muitas. Contra os batedores (Elano, Thiago Silva, André Santos e Fred) e contra o então técnico da seleção, Mano Menezes. Em 2015, no Chile, e com Dunga no comando, nova eliminação nas penalidades. Na Copa América Centenário, realizada nos Estados Unidos em 2016, queda na primeira fase diante do Peru com gol de mão. Na Arena do Grêmio, quem seria crucial na classificação brasileira era o ex-goleiro do maior rival do Tricolor Gaúcho, o Internacional. Alisson era o titular da meta colorada no dia 9 de agosto de 2015. Pelo Brasileirão, o Grêmio goleou o Inter por 5 a 0. Quatro anos depois, ele saiu ovacionado por todo o público presente, por colorados e gremistas. O Paraguai conseguiu o que queria: levar a decisão para os pênaltis e repetir as duas últimas classificações sobre o Brasil. Mas Alisson estava destinado a brilhar: logo na primeira cobrança alvirrubra, o zagueiro Gustavo Gómez (do Palmeiras) parou no goleiro campeão europeu pelo Liverpool. O Brasil acertou 4 das 5 cobranças. Derlis González, atacante do Santos e carrasco brasileiro em 2015, chutou pra fora. Firmino errou para o Brasil, e Gabriel Jesus confirmou a ida para as semifinais. Daí, era hora da prova de fogo. Do maior clássico do futebol mundial. Brasil contra Argentina, no Mineirão.
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Perseguido por "não marcar em clássicos", Gabriel Jesus foi decisivo na semifinal |
Desde as divisões de base do Palmeiras até o time profissional, Gabriel Jesus nunca marcou um gol sequer contra São Paulo, Corinthians ou Santos. Na Inglaterra, pelo Manchester City, nada de gols contra o Manchester United, rival da cidade e um dos times mais poderosos do planeta. Pela Seleção, chegou a marcar um gol na vitória sobre a Alemanha, em amistoso antes da Copa. Na Copa do Mundo da Rússia, nenhum gol marcado e chuva de críticas. Mas a maré ia virar contra a Argentina. O Brasil voltaria a jogar no Mineirão depois de 5 anos. A última partida havia sido justamente contra os hermanos, pelas Eliminatórias da Copa. Era o primeiro jogo no Gigante da Pampulha depois do fatídico dia 08 de julho de 2014, quando a seleção brasileira foi humilhada pela Alemanha, perdendo de 7 a 1 na semifinal da Copa do Mundo. Na ocasião, o Brasil venceu a Argentina por 3 a 0, com gols de Philippe Coutinho, Neymar e Paulinho, com uma atuação pra lá de convincente. Na semifinal, brilhou a estrela de Gabriel. Ele abriu o placar para o Brasil após uma jogada de videogame que começou com Daniel Alves, o maior campeão da história do futebol. A Argentina reclamou (e muito) de um pênalti não marcado, mas Gabriel Jesus nada teve a ver com a história. Disparou do campo de defesa até o ataque e serviu Roberto Firmino, que fechou o caixão albiceleste. Vaga na final, eliminando a Argentina de Messi e com o estádio gritando olé. Tem coisa melhor?
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Messi e Daniel Alves: craque do Barcelona tentou, mas não levou a Argentina para a final |
Em entrevistas, Messi esbravejou contra a Conmebol e contra a arbitragem. Disse que o torneio estava "armado para o Brasil ganhar". Na decisão do terceiro lugar, contra o Chile, em São Paulo, o camisa 10 foi expulso após confusão com o volante Medel, que também levou cartão vermelho. Foi apenas a segunda vez na carreira em que o craque do Barcelona foi expulso de campo. A outra havia sido em sua estreia pela seleção.
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A primeira expulsão da carreira de Messi foi em sua estreia pela seleção argentina, em 2006 |
E aí veio a final. O reencontro com o Peru, que havia eliminado o Brasil da Copa América Centenário ainda na primeira fase, em 2016. Na fase de grupos deste ano, show verde e amarelo com goleada por 5 a 0, fora o baile. Mas na final, as coisas mudam. Não foi a mesma atuação daquela partida em São Paulo, mas o suficiente para voltarmos a gritar "é campeão" dentro do Maracanã. A última vez que a seleção principal do Brasil levantou uma taça, foi no lendário estádio: a Copa das Confederações de 2013.
Brilhante em toda a Copa América, Everton Cebolinha abriu o placar no Maracanã. Se o jogador do Grêmio chegou ao seu terceiro gol na competição, um certo colorado também quis fazer a rede balançar no Maracanã. De pênalti, Paolo Guerrero empatou a partida. O atacante do Inter se igualou ao gremista na artilharia, e voltou a marcar no Rio de Janeiro. De 2015 até o ano passado, o peruano foi jogador do Flamengo.
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Herói peruano e xodó da torcida do Inter, Guerrero empatou o jogo ainda na primeira etapa |
No segundo tempo, brilhou novamente a estrela de Gabriel Jesus. Criticado duramente após não marcar na Copa do Mundo, o ex-palmeirense colocou o Brasil em vantagem no placar. Ao fim da partida, foi expulso de forma um tanto quanto controversa e saiu furioso de campo, mas nada que abalasse as estruturas para o time comandado por Tite. Já nos acréscimos, pênalti em Everton Cebolinha. O árbitro marcou, mas foi orientado pelo VAR a rever o lance. Foi, viu e manteve a marcação. Richarlison, que teve caxumba e ficou 2 jogos de fora até do banco, bateu com perfeição e sacramentou o eneacampeonato para o Brasil. Ano que vem tem mais: a partir de 2020, a Copa América será realizada em anos pares, coincidindo com a Eurocopa. A próxima edição será feita em dois países: Argentina e Colômbia.
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Ex-jogador do Fluminense, Richarlison comemora o gol do título da Copa América no Maracanã |
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